banner insta panorama

Câmara pode dispensar licença ambiental de plantações de eucalipto

Por Panoramams em 08/05/2024 às 16:18:18

Foto: Senado Federal

Em meio à catĂĄstrofe ambiental no Rio Grande do Sul (RS), a Câmara dos Deputados aprovou por 325 votos contra 128, nessa terça-feira (7), a urgĂȘncia de projeto de lei que exclui a silvicultura da lista de atividades consideradas potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, o que altera a PolĂ­tica Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981).

Entre outras definições, a silvicultura compreende o cultivo de florestas plantadas para fins comerciais, como a produção de eucaliptos, pinus e mognos. JĂĄ o pedido de urgĂȘncia aprovado permite que o tema seja pautado no plenĂĄrio a qualquer momento, sem ter que passar pelas comissões da Casa.

O projeto gera divergĂȘncia entre grupos do agronegócio e ambientalistas porque ele permite dispensar o licenciamento ambiental prévio para atividades da silvicultura. De acordo com o artigo 10Âș da Lei 6.938, que instituiu a PolĂ­tica Nacional de Meio Ambiente, tal licenciamento é exigido de nogócios "utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores".

Ao excluir a silvicultura da lista de atividades potencialmente poluidoras, o PL permite dispensar o licenciamento ambiental de produções em larga escala de culturas como o eucalipto e o pinus, usados na fabricação de papel, celulose e madeira.

O consultor jurĂ­dico do Instituto Socioambiental (ISA), Mauricio Guetta, argumenta que a silvicultura pode trazer impactos negativos ao meio ambiente, principalmente as plantações de grande porte, devido ao desequilĂ­brio hĂ­drico e a perda da biodiversidade que podem causar.

"A proposta exclui a atividade de silvicultura do licenciamento ambiental. Com isso, mesmo empreendimentos de grande porte, com impactos até significativos ao meio ambiente, podem ficar sem controle algum e, pior, sem a adoção de medidas preventivas e de mitigação", destacou o especialista.

Em nota à AgĂȘncia Brasil, o Ministério do Meio Ambiente informou que a mudança enfraquece o sistema de gestão do meio ambiente e aumenta os riscos ambientais. A pasta acrescentou que o Ibama jĂĄ se manifestou contra o PL 1.366.

"De acordo com o parecer [do Ibama], as justificativas de burocracia excessiva e desincentivo à atividade não seriam solucionadas com a proposta, que apenas esvaziaria recursos para os órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente realizarem controle e fiscalização de atividades", afirma a pasta..

Por outro lado, o autor do projeto, o ex-senador Álvaro Dias (Podemos-PR), justificou que a silvicultura é uma atividade benéfica ao meio ambiente. "Não se justificaria incluĂ­-la no rol de atividades potencialmente poluidoras, o que significa submetĂȘ-la a um processo licenciamento ambiental burocrĂĄtico e dispendioso que prejudica o desenvolvimento da atividade", destacou.

O projeto tem o apoio da IndĂșstria Brasileira de Árvores (IBA) que, em nota, afirma que "o setor brasileiro de ĂĄrvores cultivadas soma esforços para construir um paĂ­s pautado por valores de uma economia de baixo carbono e cada vez mais sustentĂĄvel".

RS e meio ambiente

A medida foi criticada no plenĂĄrio da Câmara dos Deputados por parlamentares que associaram a aprovação do texto à catĂĄstrofe ambiental do Rio Grande do Sul (RS). O deputado Bacelar (PL-BA) argumentou que a medida é uma afronta ao que acontece no estado gaĂșcho.

"Enquanto o Rio Grande do Sul sofre por causa de uma situação climĂĄtica, nós estamos aqui votando a urgĂȘncia de um retrocesso ambiental, votando a urgĂȘncia que fragiliza o marco legal do meio ambiente", destacou o parlamentar, que argumenta que as plantações de eucalipto e de pinos em larga escala promovem "desertos verdes", onde "nada cresce, nada se cria".

O deputado ruralista Evair Vieira de Mello (PP-ES), por outro lado, elogiou a medida, negando prejuĂ­zos ambientais. "A silvicultura surge não só como atividade econômica importante, mas também como recuperadora de solo. Portanto, ela é um ativo nas questões ambientais, e, naturalmente, ela cumpre o papel de ocupar espaços em um território que estaria abandonado, isolado por outras atividades", sustentou.

Além do governo, orientaram votos contrĂĄrios ao texto o bloco do PT, PCdoB e PV, a frente PSOL/Rede e o PSB. As demais legendas ou blocos partidĂĄrios orientaram que os parlamentares votasse favoravelmente à matéria, incluindo as lideranças da oposição.

Comunicar erro
SE LIGA

ComentĂĄrios

compushop