Foto: Senado Federal
Entre outras definições, a silvicultura compreende o cultivo de florestas plantadas para fins comerciais, como a produção de eucaliptos, pinus e mognos. JĂĄ o pedido de urgĂȘncia aprovado permite que o tema seja pautado no plenĂĄrio a qualquer momento, sem ter que passar pelas comissões da Casa.
O projeto gera divergĂȘncia entre grupos do agronegócio e ambientalistas porque ele permite dispensar o licenciamento ambiental prévio para atividades da silvicultura. De acordo com o artigo 10Âș da Lei 6.938, que instituiu a PolĂtica Nacional de Meio Ambiente, tal licenciamento é exigido de nogócios "utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores".Ao excluir a silvicultura da lista de atividades potencialmente poluidoras, o PL permite dispensar o licenciamento ambiental de produções em larga escala de culturas como o eucalipto e o pinus, usados na fabricação de papel, celulose e madeira.
O consultor jurĂdico do Instituto Socioambiental (ISA), Mauricio Guetta, argumenta que a silvicultura pode trazer impactos negativos ao meio ambiente, principalmente as plantações de grande porte, devido ao desequilĂbrio hĂdrico e a perda da biodiversidade que podem causar.
"A proposta exclui a atividade de silvicultura do licenciamento ambiental. Com isso, mesmo empreendimentos de grande porte, com impactos até significativos ao meio ambiente, podem ficar sem controle algum e, pior, sem a adoção de medidas preventivas e de mitigação", destacou o especialista.
Em nota à AgĂȘncia Brasil, o Ministério do Meio Ambiente informou que a mudança enfraquece o sistema de gestão do meio ambiente e aumenta os riscos ambientais. A pasta acrescentou que o Ibama jĂĄ se manifestou contra o PL 1.366.
"De acordo com o parecer [do Ibama], as justificativas de burocracia excessiva e desincentivo à atividade não seriam solucionadas com a proposta, que apenas esvaziaria recursos para os órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente realizarem controle e fiscalização de atividades", afirma a pasta..
Por outro lado, o autor do projeto, o ex-senador Álvaro Dias (Podemos-PR), justificou que a silvicultura é uma atividade benéfica ao meio ambiente. "Não se justificaria incluĂ-la no rol de atividades potencialmente poluidoras, o que significa submetĂȘ-la a um processo licenciamento ambiental burocrĂĄtico e dispendioso que prejudica o desenvolvimento da atividade", destacou.
O projeto tem o apoio da IndĂșstria Brasileira de Árvores (IBA) que, em nota, afirma que "o setor brasileiro de ĂĄrvores cultivadas soma esforços para construir um paĂs pautado por valores de uma economia de baixo carbono e cada vez mais sustentĂĄvel".
A medida foi criticada no plenĂĄrio da Câmara dos Deputados por parlamentares que associaram a aprovação do texto à catĂĄstrofe ambiental do Rio Grande do Sul (RS). O deputado Bacelar (PL-BA) argumentou que a medida é uma afronta ao que acontece no estado gaĂșcho.
"Enquanto o Rio Grande do Sul sofre por causa de uma situação climĂĄtica, nós estamos aqui votando a urgĂȘncia de um retrocesso ambiental, votando a urgĂȘncia que fragiliza o marco legal do meio ambiente", destacou o parlamentar, que argumenta que as plantações de eucalipto e de pinos em larga escala promovem "desertos verdes", onde "nada cresce, nada se cria".
O deputado ruralista Evair Vieira de Mello (PP-ES), por outro lado, elogiou a medida, negando prejuĂzos ambientais. "A silvicultura surge não só como atividade econômica importante, mas também como recuperadora de solo. Portanto, ela é um ativo nas questões ambientais, e, naturalmente, ela cumpre o papel de ocupar espaços em um território que estaria abandonado, isolado por outras atividades", sustentou.
Além do governo, orientaram votos contrĂĄrios ao texto o bloco do PT, PCdoB e PV, a frente PSOL/Rede e o PSB. As demais legendas ou blocos partidĂĄrios orientaram que os parlamentares votasse favoravelmente à matéria, incluindo as lideranças da oposição.