Foto: Agência Brasil - EBC
O Governo Lula, jĂĄ havia anunciado que iria mediar conflitos indĂgenas nos estados de Mato Grosso do Sul e ParanĂĄ, como o Enfoque MS noticiou na terça-feira (16), Governo federal vai mediar conflitos indĂgenas em MS e no PR . Assim, integrantes da comitiva enviada de BrasĂlia à Mato Grosso do Sul, visitaram nesta quinta-feira (18), duas localidades onde, no Ășltimo fim de semana, indĂgenas foram atacados por homens armados.
Segundo o Sul-mato-grossense indĂgena, atual secretĂĄrio-executivo do Ministério dos Povos IndĂgenas (MPI), Eloy Terena, o objetivo é verificar a situação dos guarani-kaiowĂĄ, ouvir suas demandas e garantir a segurança dos envolvidos nos recentes confrontos.
Na terça-feira (16), as equipes do governo federal, acompanhadas por representantes do governo sul-mato-grossense, estiveram na Terra IndĂgena Amambaipegua I, que abrange parte dos territórios das cidades de Amambai, Caarapó e Laguna Carapã. A comitiva visitou o Tekoha Kunumi (território sagrado), palco do ataque da Ășltima segunda-feira (15).
"Os indĂgenas relataram ter sido cercados por caminhonetes, e atacados com disparos de arma de fogo", relatou o secretĂĄrio, em publicação nas redes sociais. De acordo com o Conselho Indigenista MissionĂĄrio (Cimi), órgão vinculado à ConferĂȘncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante o ataque uma jovem foi atingida na perna.
"Além da escuta às lideranças, as equipes implementaram uma estratégia para proteção junto aos indĂgenas até a chegada da Força Nacional de Segurança PĂșblica, e vĂȘm mediando a situação para que novos ataques não aconteçam", acrescentou Eloy.
A pedido do Ministério dos Povos IndĂgenas e da Defensoria PĂșblica da União (DPU), o Ministério da Justiça e Segurança PĂșblica autorizou, nesta quarta-feira (17), o emprego de agentes da Força Nacional em ações estatais para preservar a ordem e a integridade em aldeias indĂgenas do Cone Sul do Mato Grosso do Sul e nas regiões fronteiriças do estado. A autorização consta da Portaria nÂș 726, assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Ontem, a comitiva federal visitou os territórios Tekoha Panambi e Tekoha Yvyajere, na Terra IndĂgena (TI) Panambi – Lagoa Rica, em Douradina (MS), onde indĂgenas foram atacados a tiros após decidir retomar parte do território que afirmam ter pertencido a seus antepassados.
Segundo a assembleia Aty Guasu, principal organização polĂtica e social das etnias guarani e kaiowĂĄ, a decisão foi tomada "após longos anos de espera pela homologação e regularização de nosso território ancestral, sobrevivendo em barracos de lona, sem as mĂnimas condições de vida, e sofrendo ameaças e perseguições por parte do latifĂșndio que nos cerca".
No caso da Terra IndĂgena Panambi, o governo federal delimitou a ĂĄrea a ser destinada ao usufruto exclusivo indĂgena em 2011, após a Fundação Nacional dos Povos IndĂgenas (Funai) concluir os estudos antropológicos na região. Contudo, trĂȘs ações judiciais impedem a conclusão do processo demarcatório e a homologação da reserva. A TI Amambaipegua I, em Caarapó, foi delimitada em 2016, mas o processo também é alvo de contestações.
"Os indĂgenas relataram a intimidação por parte de um fazendeiro, e de ataques com disparos de arma de fogo e bala de borracha mesmo com a presença de mulheres e crianças no local", disse o Eloy. Ele disse que, em Panambi, um indĂgena foi baleado na perna e outros dois se feriram durante os ataques. Segundo o secretĂĄrio-executivo, os primeiros agentes da Força Nacional começaram a chegar à região na quarta-feira (18).
Criada em 2004, e coordenada pelo ministério, a Força Nacional é composta por policiais militares e civis, além de bombeiros e profissionais de perĂcia cedidos temporariamente pelos governos estaduais e do Distrito Federal. Conforme o Ministério da Justiça e Segurança PĂșblica informa em seu site, não se trata de uma tropa federal, uma vez que sua atuação nos estados é dirigida pelos gestores pĂșblicos locais.
Nas publicações sobre a missão, Eloy Terena reforçou o posicionamento do Ministério dos Povos IndĂgenas contrĂĄrio à chamada Lei do Marco Temporal – Lei nÂș 14.701/23 e à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nÂș 48.
"O MPI enfatiza que a instabilidade gerada pela Lei do Marco Temporal, além de outras tentativas de avançar com a pauta [anti-indĂgena], como a PEC nÂș 48, tem como consequĂȘncia não só a incerteza jurĂdica sobre as definições territoriais que afetam os povos indĂgenas, mas abre ocasião para atos de violĂȘncia que tĂȘm os indĂgenas como as principais vĂtimas", escreveu Eloy.
Consultada pela AgĂȘncia Brasil, a Federação da Agricultura e PecuĂĄria de Mato Grosso do Sul (Famasul) também mencionou a "insegurança jurĂdica", atribuindo-a à inação do Poder PĂșblico. De acordo com a entidade que reĂșne 69 sindicatos rurais sul-mato-grossenses, hĂĄ, atualmente, 146 ĂĄreas "invadidas" em todo o estado.
"São ocorrĂȘncias que evidenciam a insegurança jurĂdica vivenciada hĂĄ décadas em nosso estado, resultante da falta de uma resposta definitiva por parte do Poder PĂșblico, que garanta a pacificação no campo." A entidade também manifestou preocupação com a escalada da violĂȘncia e com a segurança de "nĂșmero expressivo de produtores rurais que, mesmo tendo adquirido seus imóveis de forma legĂtima e com posse pacĂfica exercida hĂĄ mais de meio século, tĂȘm seus tĂtulos questionados e suas ĂĄreas invadidas".
Além de representantes dos ministérios dos Povos IndĂgenas (MPI) e dos Direitos Humanos e da Cidadania, participam da comitiva federal servidores de vĂĄrios órgãos: Funai, Secretaria de SaĂșde IndĂgena (Sesai), Ministério PĂșblico Federal (MPF), PolĂcia RodoviĂĄria Federal (PRF), Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, NĂșcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Povos IndĂgenas e da Igualdade Racial e Étnica da Defensoria PĂșblica, Secretaria de Cidadania do governo do estado de Mato Grosso do Sul e do Conselho Nacional de PolĂtica Indigenista, e comunicadores e ambientalistas.
A expectativa é que os integrantes da comitiva federal visitem também o ParanĂĄ, onde, nas Ășltimas semanas, foram registradas ocorrĂȘncias semelhantes às do Mato Grosso do Sul. Segundo o MPI, no inĂcio do mĂȘs, 22 famĂlias avĂĄ guarani que ocupam uma parcela do território jĂĄ delimitado para dar lugar à futura Terra IndĂgena Guasu GuavirĂĄ, nas cidades de GuaĂra, Altônia e Terra Roxa, próximas à fronteira com o Paraguai, se espalharam, ampliando a ocupação. De acordo com a pasta, isso aconteceu "porque a comunidade em que vivem jĂĄ não comporta mais habitante".
As famĂlias foram, então, alvo de ataques de ruralistas", relatou o MPI, destacando que a presença de agentes da Força Nacional de Segurança PĂșblica na região não intimidou os agressores. "Entre os feridos, um indĂgena foi baleado. Além da violĂȘncia fĂsica sofrida pelos avĂĄ guarani, doações e entrega de alimentos foram impedidas de serem realizadas no local por ruralistas".
Fonte: AgĂȘncia Brasil