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Comitiva federal visita áreas de conflitos indígenas em Mato Grosso do Sul

Por Panoramams em 18/07/2024 às 17:05:40

Foto: Agência Brasil - EBC

O Governo Lula, jĂĄ havia anunciado que iria mediar conflitos indĂ­genas nos estados de Mato Grosso do Sul e ParanĂĄ, como o Enfoque MS noticiou na terça-feira (16), Governo federal vai mediar conflitos indĂ­genas em MS e no PR . Assim, integrantes da comitiva enviada de BrasĂ­lia à Mato Grosso do Sul, visitaram nesta quinta-feira (18), duas localidades onde, no Ășltimo fim de semana, indĂ­genas foram atacados por homens armados.

Segundo o Sul-mato-grossense indĂ­gena, atual secretĂĄrio-executivo do Ministério dos Povos IndĂ­genas (MPI), Eloy Terena, o objetivo é verificar a situação dos guarani-kaiowĂĄ, ouvir suas demandas e garantir a segurança dos envolvidos nos recentes confrontos.

Na terça-feira (16), as equipes do governo federal, acompanhadas por representantes do governo sul-mato-grossense, estiveram na Terra IndĂ­gena Amambaipegua I, que abrange parte dos territórios das cidades de Amambai, Caarapó e Laguna Carapã. A comitiva visitou o Tekoha Kunumi (território sagrado), palco do ataque da Ășltima segunda-feira (15).

"Os indĂ­genas relataram ter sido cercados por caminhonetes, e atacados com disparos de arma de fogo", relatou o secretĂĄrio, em publicação nas redes sociais. De acordo com o Conselho Indigenista MissionĂĄrio (Cimi), órgão vinculado à ConferĂȘncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante o ataque uma jovem foi atingida na perna.

"Além da escuta às lideranças, as equipes implementaram uma estratégia para proteção junto aos indĂ­genas até a chegada da Força Nacional de Segurança PĂșblica, e vĂȘm mediando a situação para que novos ataques não aconteçam", acrescentou Eloy.

Força Nacional

A pedido do Ministério dos Povos IndĂ­genas e da Defensoria PĂșblica da União (DPU), o Ministério da Justiça e Segurança PĂșblica autorizou, nesta quarta-feira (17), o emprego de agentes da Força Nacional em ações estatais para preservar a ordem e a integridade em aldeias indĂ­genas do Cone Sul do Mato Grosso do Sul e nas regiões fronteiriças do estado. A autorização consta da Portaria nÂș 726, assinada pelo ministro Ricardo Lewandowski.

Ontem, a comitiva federal visitou os territórios Tekoha Panambi e Tekoha Yvyajere, na Terra IndĂ­gena (TI) Panambi – Lagoa Rica, em Douradina (MS), onde indĂ­genas foram atacados a tiros após decidir retomar parte do território que afirmam ter pertencido a seus antepassados.

Segundo a assembleia Aty Guasu, principal organização polĂ­tica e social das etnias guarani e kaiowĂĄ, a decisão foi tomada "após longos anos de espera pela homologação e regularização de nosso território ancestral, sobrevivendo em barracos de lona, sem as mĂ­nimas condições de vida, e sofrendo ameaças e perseguições por parte do latifĂșndio que nos cerca".

No caso da Terra IndĂ­gena Panambi, o governo federal delimitou a ĂĄrea a ser destinada ao usufruto exclusivo indĂ­gena em 2011, após a Fundação Nacional dos Povos IndĂ­genas (Funai) concluir os estudos antropológicos na região. Contudo, trĂȘs ações judiciais impedem a conclusão do processo demarcatório e a homologação da reserva. A TI Amambaipegua I, em Caarapó, foi delimitada em 2016, mas o processo também é alvo de contestações.

"Os indĂ­genas relataram a intimidação por parte de um fazendeiro, e de ataques com disparos de arma de fogo e bala de borracha mesmo com a presença de mulheres e crianças no local", disse o Eloy. Ele disse que, em Panambi, um indĂ­gena foi baleado na perna e outros dois se feriram durante os ataques. Segundo o secretĂĄrio-executivo, os primeiros agentes da Força Nacional começaram a chegar à região na quarta-feira (18).

Criada em 2004, e coordenada pelo ministério, a Força Nacional é composta por policiais militares e civis, além de bombeiros e profissionais de perĂ­cia cedidos temporariamente pelos governos estaduais e do Distrito Federal. Conforme o Ministério da Justiça e Segurança PĂșblica informa em seu site, não se trata de uma tropa federal, uma vez que sua atuação nos estados é dirigida pelos gestores pĂșblicos locais.

Nas publicações sobre a missão, Eloy Terena reforçou o posicionamento do Ministério dos Povos IndĂ­genas contrĂĄrio à chamada Lei do Marco Temporal – Lei nÂș 14.701/23 e à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nÂș 48.

"O MPI enfatiza que a instabilidade gerada pela Lei do Marco Temporal, além de outras tentativas de avançar com a pauta [anti-indĂ­gena], como a PEC nÂș 48, tem como consequĂȘncia não só a incerteza jurĂ­dica sobre as definições territoriais que afetam os povos indĂ­genas, mas abre ocasião para atos de violĂȘncia que tĂȘm os indĂ­genas como as principais vĂ­timas", escreveu Eloy.

Consultada pela AgĂȘncia Brasil, a Federação da Agricultura e PecuĂĄria de Mato Grosso do Sul (Famasul) também mencionou a "insegurança jurĂ­dica", atribuindo-a à inação do Poder PĂșblico. De acordo com a entidade que reĂșne 69 sindicatos rurais sul-mato-grossenses, hĂĄ, atualmente, 146 ĂĄreas "invadidas" em todo o estado.

"São ocorrĂȘncias que evidenciam a insegurança jurĂ­dica vivenciada hĂĄ décadas em nosso estado, resultante da falta de uma resposta definitiva por parte do Poder PĂșblico, que garanta a pacificação no campo." A entidade também manifestou preocupação com a escalada da violĂȘncia e com a segurança de "nĂșmero expressivo de produtores rurais que, mesmo tendo adquirido seus imóveis de forma legĂ­tima e com posse pacĂ­fica exercida hĂĄ mais de meio século, tĂȘm seus tĂ­tulos questionados e suas ĂĄreas invadidas".

Além de representantes dos ministérios dos Povos IndĂ­genas (MPI) e dos Direitos Humanos e da Cidadania, participam da comitiva federal servidores de vĂĄrios órgãos: Funai, Secretaria de SaĂșde IndĂ­gena (Sesai), Ministério PĂșblico Federal (MPF), PolĂ­cia RodoviĂĄria Federal (PRF), Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, NĂșcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Povos IndĂ­genas e da Igualdade Racial e Étnica da Defensoria PĂșblica, Secretaria de Cidadania do governo do estado de Mato Grosso do Sul e do Conselho Nacional de PolĂ­tica Indigenista, e comunicadores e ambientalistas.

ParanĂĄ

A expectativa é que os integrantes da comitiva federal visitem também o ParanĂĄ, onde, nas Ășltimas semanas, foram registradas ocorrĂȘncias semelhantes às do Mato Grosso do Sul. Segundo o MPI, no inĂ­cio do mĂȘs, 22 famĂ­lias avĂĄ guarani que ocupam uma parcela do território jĂĄ delimitado para dar lugar à futura Terra IndĂ­gena Guasu GuavirĂĄ, nas cidades de GuaĂ­ra, Altônia e Terra Roxa, próximas à fronteira com o Paraguai, se espalharam, ampliando a ocupação. De acordo com a pasta, isso aconteceu "porque a comunidade em que vivem jĂĄ não comporta mais habitante".

As famĂ­lias foram, então, alvo de ataques de ruralistas", relatou o MPI, destacando que a presença de agentes da Força Nacional de Segurança PĂșblica na região não intimidou os agressores. "Entre os feridos, um indĂ­gena foi baleado. Além da violĂȘncia fĂ­sica sofrida pelos avĂĄ guarani, doações e entrega de alimentos foram impedidas de serem realizadas no local por ruralistas".

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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